sábado, 19 de março de 2011

ORIENTAÇÕES PARA UMA LEITURA PROVEITOSA



O ESTUDO  PELA  LEITURA TRABALHADA
1- A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É preciso ler e, principalmente, ler bem. Quem não sabe ler não saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente, não saberá estudar. Ler bem é o ponto fundamental para os que quiserem ampliar e desenvolver as orientações e aberturas das aulas. É muito importante participar das aulas; elas não circunscrevem, não limitam; ao contrário, abrem horizontes para as grandes caminhadas do aluno que leva a sério seus estudos e quer atingir resultados plenos de seus cursos. Aliás, quase todas as cadeiras desenvolvem programas de pesquisa bibliográfica para que o aluno desenvolva temas e reconstrua activamente o que outros já construíram. Para elaborar trabalhos de pesquisa, é necessário ir às fontes, aos autores, aos livros; é preciso ler, ler muito e, principalmente, ler bem.
Durante as primeiras aulas de qualquer disciplina, os mestres apresentam criteriosa bibliografia; alguns livros são básicos, ou de leitura obrigatória, para quem quer colher todo fruto das aulas; outros são mais especializados ou se concentram em algum item do programa, e pode, entre os tratados gerais de consulta obrigatória, ser indicado um, como livro de texto. A indicação do livro de texto tem vantagens e inconvenientes cuja análise ultrapassaria os limites que este compêndio impõe. Diremos, apenas, que o livro de texto é muito bom para a preparação da aula, mas que o aluno não pode ater-se exclusivamente a ele. "Timeo hominem unius libri", diziam os antigos. Devemos temer o homem de um livro só. É necessário abeberar-se de outras fontes mais amplas, mais especializadas sobre cada tema ou sobre cada pormenor dos programas.
Se não é possível pensar em fazer um bom curso sem descobrir ou fazer aparecer espaços de tempo para o estudo extra-aula e se é necessário programar criteriosamente a utilização desse tempo, não seria igualmente impossível pensar em fazer um bom curso sem ter à mão boas fontes de leitura? É possível que se pretenda fazer um curso universitário sem frequentar bibliotecas ou sem adquirir, ao menos, os livros básicos para cada programa?
A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contacto com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu. E, ao terminar um curso superior, deveríamos não só estar capacitados a repetir o que foi aprendido na faculdade, como também estar habilitados a desenvolver, através de pesquisas, temas nunca abordados em aula. Deveríamos ser uma pequena fonte, não um pequeno depósito de conhecimentos, ou mero encanamento por onde as coisas apenas passam.
É preciso ler, ler muito, ler bem.
É preciso sentir atracção pelo saber, e encontrar onde buscá-lo. É necessário iniciar este trabalho com determinação e perseverar nele; o crescimento cultural tem crises como o crescimento físico; quem não sente apetite não deve deixar de alimentar-se; comprometeria sua saúde. Também na leitura trabalhada devemos ser perseverantes; só esta perseverança garantirá aquela espécie de saltos de integração de dados, que se vão acumulando e associando como frutos da leitura continuada.
2 - COMO SELECCIONAR O QUE LER
O título do livro é a primeira informação que temos sobre seu conteúdo, mas não deve figurar como critério de escolha para a leitura. Devemos examinar sumariamente o livro cujo título nos interessa à primeira vista; devemos ver o nome do autor, seu curriculum; devemos ler sua "orelha", o índice da matéria, a documentação ou as citações ao pé das páginas, a bibliografia, assim como verificar a editora, a data, a edição e ler rapidamente o prefácio. A convergência destes vários elementos ajuda a seleccionar o que ler. Ademais, podemos consultar professores da respectiva área.
Todo estudante deveria interessar-se pela formação de uma pequena biblioteca de obras seleccionadas; os livros são suas ferramentas de trabalho. O primeiro passo é adquirir os livros citados pelos professores como indispensáveis ou fundamentais; em seguida as obras mais amplas e mais especializadas dentro da área profissional ou do interesse particular de cada um.
3 -  VELOCIDADE E EFICIÊNCIA DA LEITURA
Alguns lêem tão devagar que, ao final de um parágrafo, já tiveram tempo para esquecer seu início, e voltam para revê-lo. Estes retornos representam nova forma de perda de tempo que se soma à lentidão da leitura, com enorme prejuízo. Quem assim procede não encontra tempo para ler, pois não há tempo que chegue e, desta forma, instala-se um verdadeiro círculo vicioso.
Normalmente, a leitura veloz não prejudica a eficiência ou a compreensão. Quem lê bem e depressa encontra tempo para ler e faz seu tempo render. Não existe uma velocidade-padrão de leitura; a maior ou a menor velocidade depende do género do próprio texto, bem como das peculiaridades do leitor. Não se lêem com a mesma velocidade textos de gênero diferente, como, por exemplo, um romance e um manual de biologia. Por outro lado, cada um deve atingir sua velocidade ideal, mas é certo que sempre é possível aumentar a velocidade sem prejuízo da compreensão.
Não pretendemos apresentar um curso de leitura veloz, mas oferecer uma sequência de normas e de considerações que levarão normalmente a um aumento de velocidade e de eficiência na leitura cultural, isto é, um curso que aumentará o rendimento do esforço pessoal no estudo, através da leitura. Em nosso caso, da leitura eficiente decorrem a captação, a retenção e a integração de conhecimentos contidos no manancial dos textos lidos.
4 - COMODIDADE E HIGIENE NA LEITURA
O ambiente material de leitura deve reunir umas tantas condições que a favoreçam. É preferível ler em ambiente amplo, arejado, bem iluminado e silencioso; se a luz for artificial, deve ser difusa, e seu foco deve estar à esquerda de quem lê. É preferível ler sentado a ler em pé ou deitado. Além do texto a ser lido, é importante ter à mão um bom dicionário, lápis e um bloco de papel. É de suma importância, também, o clima de silêncio interior, de concentração naquilo que se vai fazer.
Tudo o que resumimos acima está amplamente desenvolvido provado e justificado nos tratados de pedagogia e de didáctica. Não duvidamos de sua importância, mas quem não dispuser do ambiente ideal de leitura deve aprender a ler com boa velocidade e eficiência num banco de jardim, numa sala de espera ou numa fila de táxi. Cada um constrói sua casa com as pedras que tem.
Não se julgue impossibilitado de ler aquele que não puder fazê-lo em ambiente de condições ideais, mas é importante conhecer estas condições e procurar criá-las ou desfrutar delas tanto quanto possível.
5 - DEFINIÇÃO DE PROPÓSITOS
Alguém pode ler só para passar o tempo, para não manter conversação com o cidadão estranho que se sentou a seu lado no mesmo vagão, ou para dar ares de intelectual; estas são maneiras de dar alguma finalidade à leitura. Mas não é dessa finalidade ou propósito que estamos falando.
A finalidade básica da leitura cultural é a procura, a captação, a crítica, a retenção e a integração de conhecimentos, e isto se faz, em primeiro lugar, pela procura das ideias mestras, das ideias principais, também chamadas ideias directrizes. Cada texto, cada secção, cada capítulo e, mesmo, cada parágrafo tem uma ideia principal, uma palavra-chave, um conceito fundamental. “... é essencial que o estudante se preocupe em descobrir qual é essa ideia directriz, fio condutor do pensamento do mestre ou expositor", escreve Emilio Mira y López, em seu Como estudar e como aprender, e continuar "Assim, pois, como cada fábula tem a sua 'moral', isto é, a sua essência significativa, cada série de pensamentos possui uma ideia directriz ou conceito fundamental. Descobri-lo, quando não está em negrito, é conquistar um dos factores essenciais de toda aprendizagem cultural".
Em cada parágrafo, pois, o leitor deve captar a ideia principal; deve concentrar-se em sua procura. O mau leitor, ou seja, o leitor lento e ineficiente, lê palavras, ou melhor dizendo, lê palavra por palavra, como se todas tivessem igual valor; o bom leitor lê unidades de pensamento, lê ideias e as hierarquiza enquanto lê, de maneira a encontrar a ideia mestra ou a palavra-chave. Quem lê ideias é mais veloz na leitura e capta melhor o que lê. Mas isto è fruto de treinamento, de exercícios. "Se vocês, amigos leitores, dedicassem uma hora por dia à tarefa de descobrir, concretizar e formular as ideias directrizes de alguns parágrafos de diversos textos, exercitar-se-iam em uma técnica de abstracção e de síntese que lhes permitiria tirar o máximo proveito de qualquer tipo de leitura ou estudo ulterior.
Nossa experiência de mais de vinte anos de magistério, bem como de mais de trinta anos de continuados estudos confirmam as palavras de Mira y López e da generalidade dos autores que versaram sobre o assunto. Por ocasião da última abordagem do presente assunto em classe, uma aluna tomou a palavra para prestar interessante depoimento: "Estou cursando esta cadeira de Metodologia com calouros, mas já estou no último semestre do curso de Estudos Sociais. Sou transferida de outra faculdade, onde não existe a cadeira de Metodologia. Confesso que estava chegando ao fim do curso sem saber ler. Percebo que fui muito prejudicada. Mas... antes tarde do que nunca!"
Esse depoimento teve mais força persuasiva do que toda nossa aula. E aquela classe passou a valorizar nossa cadeira, a estar mais atenta às aulas e a aplicar-se com maior dedicação à leitura cultural para trabalhos de pesquisa bibliográfica.
Quem não puder dedicar uma hora por dia ao trabalho de encontrar as ideias principais de alguns parágrafos não se julgue dispensado deste exercício; leia com este propósito seu livro de textos, suas apostilam e toda a bibliografia consultada na elaboração de seus trabalhos de pesquisa. Procure, após a leitura de algumas páginas, reformular as ideias mestras; leia novamente a passagem para verificar se atingiu o propósito de toda leitura cultural, que é captar, reter, integrar e evocar conhecimentos reformulados. "Crie o hábito de encontrar a ideia principal em cada parágrafo que ler.  Quando julgar tê-lo feito, confira sua conclusão e mantenha a ideia em mente enquanto continua a ler, e compare-a, especialmente, com a sentença-sumário. Se tiver dúvidas a respeito de sua selecção, releia o parágrafo, desta vez olhando-o bem para se certificar de que captou a ideia correcta. Lembre-se, porém, de que nem sempre pode encontrá-la numas poucas palavras dadas; talvez, tenha de refraseá-la com palavras suas (uma boa prática, afinal de contas) para captá-la com exactidão.
6 - A IDEIA MESTRA EM SUA CONSTELAÇÃO
Não existem capítulos, secções ou livros só com ideias mestras; estas seriam encontradas nos índices, nos prefácios e nos sumários. Nem é possível captar, hierarquizar, criticar, reter ou evocar ideias mestras totalmente despojadas de pormenores importantes. A ideia principal aparece sempre numa constelação de ideias que gravitam à sua volta; um argumento que a justifique, um exemplo que a elucide, uma analogia que a torne verosímil e um facto ao qual ela se aplique são elementos de sustentação da ideia principal.
 O bom leitor não lê só o essencial; não lê apenas resumos com o propósito insano de memorizá-los. O bom leitor produz seus resumos, é verdade; e procura acompanhar a montagem, o encadeamento, a articulação das ideias em amplos e profundos textos nos quais as ideias principais são fundamenta das em bases sólidas, em demonstrações de validade ponderável, em factos de evidência comprovada, em documentos insofismáveis, ou são aplicadas na solução de problemas ou na definição ou normalização da conduta.
Quem alega, por ocasião de exames ou em conversações rotineiras, que tem facilidade para responder a perguntas essenciais, mas não se interessa por pormenores e "coisinhas" está confessando, embora não seja esta a sua intenção, que não lê ou não sabe ler, que não estuda ou não sabe estudar.
É importantíssimo discernir o principal e o secundário, a ideia mestra e os pormenores mais importantes ou menos importantes. Memorizar índices, enunciados, teses, ou postulados não exime ninguém da pecha de mau leitor, de mau estudante ou de pseudo-selecionador de preciosidades. Quem procede assim não tem razão para escusar-se; deve mudar de conduta e começar a ler e a estudar com inteligência e sabedoria, isto é, com amor pelo saber.
7 - SUBLINHAR COM INTELIGÊNCIA
Sublinhar é una arte que ajuda a colocar em destaque as ideias mestras, as palavras-chave e os pormenores importantes. Quem sublinha com inteligência está constantemente atento à leitura; descobre o principal em cada parágrafo e o diferencia do acessório; este propósito o mantém concentrado e em atitude de critica durante todo o tempo dedicado à leitura. Além desse efeito benéfico, já durante a leitura, o hábito de sublinhar com inteligência favorece o trabalho das revisões imediatas, bem como as revisões globalizadoras posteriores.
Há leitores que ouviram falar na vantagem de sublinhar, ou que tiveram colegas excelentes nos estudos, cujos livros estavam sempre sublinhados inteligentemente; por isso resolveram sublinhar também. Mas esses imitadores de coisas vão sublinhando logo na primeira leitura todas as palavras que parecem mais importantes em determinado parágrafo, e seguem em frente como se tudo estivesse perfeitamente localizado, hierarquizado, captado, entendido.
Sublinhar é una técnica que tem suas normas. Se essas normas não forem observadas, o sublinhamento indiscriminado atrapalhará mais do que ajudará, quer durante a leitura, quer por ocasião das revisões.
8 - NORMAS PARA SUBLINHAR
Cada um pode adoptar uma simbologia arbitrária e pessoal para sublinhar e fazer anotações à margem dos textos. Basta que a simbologia adoptada mantenha uma significação bem definida e constante. Entretanto, poderíamos sugerir algumas normas colhidas em fontes credenciadas e em larga experiência pessoal:
a) Sublinhar apenas as ideias principais e os detalhes importantes  - Não se deve sublinhar em demasia. Não sublinhar longos períodos; basta sublinhar palavras-chave. Aplica-se ao caso o adágio latino "non multa, sed multum", que traduziríamos, adaptando a nosso intento: não sublinhar multa, isto é, muitas coisas, mas sublinhar multum, isto é, muito significativo.
b) Não sublinhar por ocasião da primeira leitura – As pessoas mais experimentadas, que examinam textos pertinentes à sua área de especialização, sublinham inteligentemente por ocasião da primeira leitura; mas recomenda-se aos principiantes que não o façam; leiam primeiro um ou mais parágrafos, e retomem para sublinhar aquelas palavras ou bases essenciais que, desde a primeira leitura, foram identificadas como principais, e que a releitura mais rápida confirma como tais.
c) Reconstituir o parágrafo a partir das palavras sublinhadas – É supérfluo esclarecer esta norma que traduz a natureza e a finalidade do ato de sublinhar.
d) Ler o texto sublinhado com a continuidade e plenitude de sentido de um telegrama – Por ocasião das revisões imediatas ou posteriores, os textos sublinhados de acordo com esta norma permitirão uma leitura rapidíssima, apoiada nos pilares das palavras sublinhadas; por outro lado, a leitura das palavras sublinhadas, embora pertencentes a frases diferentes e até distanciadas, terá um sentido fluente e concatenado.
e) Sublinhar com dois traços as palavras-chave da ideia principal, e com um único traço os pormenores importantes – Devemos sublinhar tanto as ideias principais como os detalhes importantes, mas é bom agir de tal maneira que as ideias principais se mantenham destacadas.
f)  Assinalar com linha vertical, à margem do texto, as passagens mais significativas – Não raro, a ideia principal retorna em diversos parágrafos e em diversos contextos. E há passagens em que o autor atinge uma espécie de clímax; essas passagens, que poderíamos transcrever em nossas fichas de documentação pessoal, devem ser identificadas para futuras buscas. Nada melhor que um traço vertical à margem do texto para tal identificação.
g) Assinalar com um sinal de interrogação, à margem, os pontos de discordância – Podemos não concordar com as posições assumidas pelo autor, como também perceber incoerências, paralogismos, interpretações tendenciosas de fontes e uma série de falhas ou de colocações que julgamos insustentáveis, dignas de reparos ou passíveis de críticas. Devemos registar o facto mediante uma interrogação à margem do texto em apreço.
Há quem fale do uso de cores diferentes para assinalar ideias principais e pormenores importantes, em lugar de usar um ou dois traços, conforme preferirmos, bem como do uso de uma terceira cor para assinalar pontos mais difíceis ou que não tenham ficado claros. Para assinalar pontos mais obscuros, quer durante a leitura de preparação para as aulas, quer durante as leituras ulteriores, em textos de maior desenvolvimento, preferimos a utilização de lápis e não de canetas a tinta. De resto, aplica-se ao caso o provérbio latino "de gustibus et cloribus nom disputatur", isto é, "a respeito de preferências e de cores não se deve discutir": que cada um adopte a simbologia que melhor lhe pareça.
9 - VOCABULÁRIO E LEITURA EFICIENTE
Muita gente lê mal porque não tem bom vocabulário e não tem bom vocabulário porque lê mal, o que se torna um círculo vicioso que deve converter-se em círculo virtuoso, para todo aquele que aspira atingir nível de crescimento cultural.
O domínio cada vez mais amplo do vocabulário enriquece nossa possibilidade de compreensão e concorre para aumentar a velocidade na leitura.
Mas como aumentar nosso vocabulário? Decorando algum dicionário? Quem o fez em seu tempo de estudante, em eras que não voltam mais, confessa que o trabalho era penoso; entretanto, acaba agradecendo aos professores exigentes de seu tempo. Mas o melhor recurso para aumentar o próprio vocabulário é, sem dúvida, a leitura.
Como proceder ante uma palavra de sentido desconhecido, ou que assume sentido novo em determinado contexto? Morgan e muitos outros recomendam a imediata consulta aos dicionários: "A primeira coisa a fazer é procurá-la num dicionário. " Por nossa parte, sugerimos que se experimente não interromper a leitura ante um termo de sentido desconhecido; não raro, a sequência do texto deixará bem claro o sentido da palavra desconhecida; anote, pois, a palavra desconhecida em um papel avulso, e continue a ler. Ao final de um capítulo, apanhe o dicionário para esclarecer todas as palavras anotadas como desconhecidas e verifique o sentido que melhor se coaduna com o respectivo contexto. Assim, durante a segunda leitura, em que se sublinham as ideias principais e os pormenores importantes, todos os termos estarão claros e incorporados a nosso vocabulário. Adopte a sugestão da consulta imediata ou a sugestão de não interromper a leitura cada vez que encontrar uma palavra desconhecida. O fundamental é que não se deve perder a oportunidade de enriquecer o próprio vocabulário pela preguiça da busca de palavras novas em algum dicionário. Por certo, estaríamos prejudicando a compreensão do texto e impedindo o próprio crescimento cultural. Que dicionários consultar? Não se entende um estudante de nível superior que não tenha um bom dicionário comum da língua materna. Mas há certas palavras que, embora incorporadas à linguagem vulgar, conservam ou assumem sentido específico, definido pelas diversas ciências, como a botânica, a biologia, a medicina, a filosofia, e assim por diante. Outras palavras não constam nos dicionários comuns, mas tão-somente nos dicionários de maior porte ou em dicionários técnicos das diversas áreas. O estudante deve adquirir um bom dicionário dentro de sua área de especialização. Entretanto, as faculdades mantêm bibliotecas ricas em fontes de consulta, com grande variedade de dicionários e enciclopédias à disposição de seus alunos. Não é preciso que cada um compre enciclopédias caríssimas para usar uma vez ou outra; com - o dinheiro de uma enciclopédia de generalidades monta-se uma preciosa estante com obras da própria especialidade, inclusive com dicionários técnicos ; e isto parece ser mais útil.

10 - USAR MELHOR A VISTA
Durante a leitura, nossos olhos percorrem as linhas não em movimento contínuo, mas aos pulos, não lemos durante o movimento dos olhos, mas nas suas rápidas paradas, que podem ser observadas com aparelhos adequados. Nossos olhos podem fixar-se em uma sílaba, em uma palavra, ou em um grupo de palavras, nessas paradas de reconhecimento dos estímulos gráficos. Quanto mais amplo for este campo de parada ou de reconhecimento, mais veloz será a leitura; e como essas paradas incidem em palavras principais, mais compreensível toma-se o texto.
O bom leitor não lê palavra por palavra, muito menos sílaba por sílaba; sua vista incide sobre grupos de palavras; a pausa de reconhecimento deste grupo de palavras é curta. Mas, esta habilidade é fruto de exercícios e da prática da leitura.
Sugerimos que se façam exercícios de leitura, procurando fixar em cada grupo de palavras as sílabas iniciais, como se o texto estivesse escrito com abreviaturas.
11 - LER E LEVANTAR ESQUEMAS E RESUMOS
Para acentuar os propósitos da leitura, para melhor captar, discernir, assimilar, gravar e facilitar a evocação futura dos conteúdos da leitura, nada melhor do que procurar reproduzir ou refrasear aquilo que lemos: "Se você resolver anotar brevemente o que o autor diz, não pode evitar que o que ele diz se torne parte do seu próprio processo mental."
Quem lê bem, de lápis na mão, à procura das ideias directrizes e dos pormenores importantes, já preparou caminho para o levantamento do esquema seguido pelo autor, bem como para a elaboração do resumo daquilo que leu. Quem faz leitura trabalhada exercita-se na habilidade de discernir o principal e o acessório, e deixa assinalado, durante a leitura, tudo o que poderia fornecer elementos para o levantamento do esquema, para a elaboração do resumo ou para transcrições em fichas de documentação pessoal. Ao contrário, quem não lê com discernimento, ou quem não sublinha com inteligência, fará resumos falhas, sínteses mutiladas que mais atrapalharão nos estudos e confundirão nas revisões do que ajudarão.
11. 1 - Natureza, função e regras do esquema
Esquema é o plano, a linha directriz seguida pelo autor no desenvolvimento de seu escrito; esse plano delimita um tema e estabelece a trajectória básica de sua apresentação, subordinando ideias, seleccionando factos e argumentos.
A função do esquema, pois, é definir o tema e hierarquizar as partes de um todo numa linha directriz, para torná-lo possível a uma visão global. Pelo esquema, pode-se atingir o todo numa única mirada.
A elaboração ou levantamento do esquema obedece a algumas regras:
a) Seja fiel ao texto. Não se pode trabalhar com esquemas fixos ou preconcebidos e forçar o texto lido a entrar neles.
b) Apanhe o tema do autor, destaque títulos, subtítulos que guiaram a introdução, o desenvolvimento e as conclusões do texto.
c) Seja simples, claro e distribuído organicamente, de maneira a apresentar límpida imagem concentrada do todo.
d) Subordine ideias e factos, não os reúna apenas.
e) Mantenha sistema uniforme de observações, gráficos e símbolos para as divisões e subordinações que caracterizam a estrutura do texto.
11.2 - Natureza, função e regras do resumo
O resumo pedagógico, não necessariamente científico, consiste no trabalho de condensação de um texto capaz de reduzi-lo a seus elementos de maior importância. Não estamos considerando, no contexto da presente análise, os resumos elaborados com o intuito de divulgação científica nas secções especializadas de jornais ou revistas, mas o resumo como recurso de aprendizagem e como material adaptado ao trabalho de revisão.
O resumo difere do esquema e do sumário porque é formado por parágrafos de sentido completo; sua leitura dispensa a do texto original, no que diz respeito ao levantamento dos conteúdos; não indica tópicos apenas, mas condensa sua apresentação. Ademais, os resumos comportam apreciação crítica a partir de uma posição assumida.
"Numerosas pesquisas, a propósito, provaram que recordamos muito melhor as coisas que fazemos... " (Morgan, p.69) O trabalho de resumir ajuda a captação, a análise, o relacionamento, a fixação e a integração daquilo que estamos estudando, assim como facilita sua evocação e reduz o tempo destinado à preparação de provas, aumentando o aproveitamento geral.
Não concordamos com a sugestão de elaborar por escrito resumos de tudo o que estudamos. Isso pode ser muito bem, ou mesmo necessário, quando o texto em apreço é muito amplo ou de acesso difícil, pois não temos condição ou interesse em possuí-lo; isso acontece quando estamos pesquisando obra rara em uma biblioteca pública, por exemplo. O resumo toma-se aconselhável quando ouvimos uma aula ou conferência profunda e amplamente desenvolvida, ou quando estamos colectando material para um trabalho de maior fôlego. De resto, o resumo será útil para testar nosso entendimento de textos mais difíceis, para nos exercitar na arte de redigir com clareza e concisão. Mas, um texto lido, trabalhado, analisado, sublinhado, com anotações à margem, é um resumo em potencial; não concordamos com a posição daqueles que prescrevem a prática do resumo escrito de tudo o que se lê como condição necessária ao estudo eficiente. Voltemos à ideia fundamental: quem lê bem será capaz de elaborar bom resumo, e obedecerá quase espontaneamente às seguintes regras:
a) Não pretender resumir antes de ler, de esclarecer todo o texto, de sublinhar, de fazer breves anotações à margem do texto - Quem pretende fazer resumo enquanto lê acaba sendo tão prolixo como o original e muito menos perfeito. Podem-se, entretanto, anotar em papel avulso dados que, possivelmente, serão depois incorporados ou mesmo salientados no resumo. Por outro lado, resumo é trabalho de "extracção" e não de "criação". É possível fazer um resumo daquilo que se sabe, independente de qualquer texto, mas resumo de "texto" supõe, necessariamente, fidelidade ao texto e, consequentemente, leitura e exame prévios.
b) Ser breve e compreensível – Se é resumo, que não se estenda em demasia; mas, como deve ser suficiente, isto é, como deve dispensar a leitura do texto original, o resumo não pode permanecer nas indicações sumários de tópicos, como acontece com o esquema.
c) Percorrer especialmente as palavras sublinhadas e as anotações à margem do texto – Depois de uma primeira leitura geral e corrida, depois de todos os esclarecimentos de termos e conceitos, depois de uma segunda leitura com anotações, está preparado o caminho para um resumo perfeito; nem é preciso reler todo o texto; basta seguir as anotações e sublinhas.
d) Nos casos de transcrição textual, usar aspas e fazer referência completa à fonte – Às vezes, o próprio autor condensa admiravelmente seu pensamento em passagens lapidares; podemos transcrever tais passagens, enriquecendo e valorizando nosso resumo, mas é importante destacar tais textos e transcrevê-los entre aspas, indicando a fonte.
e) Juntar, especialmente ao final, ideias integradoras, referências bibliográficas e críticas de carácter pessoal – Os resumos, embora marcados pelo carácter de objectividade e de fidelidade às fontes, comportam inclusões de crítica pessoal e certas anotações de carácter integrador; diríamos que os resumos podem e devem ser "personalizados".
12 -  COM O TEXTO DIANTE DOS OLHOS
Se entendermos, ao término de nossas considerações sobre o estudo através da leitura trabalhada, a importância desse recurso, no processo de crescimento cultural, a que devem necessariamente aspirar todos os que ultrapassaram o vestíbulo de uma faculdade, para devotar-se à conquista da formação superior; se nos convencermos da necessidade de partir, como propósito básico, em qualquer leitura cultural, à procura da ideia mestra e dos pormenores importantes que serão sublinhados, discutidos, analisados, assimilados, reduzidos a esquemas e resumos, numa actividade de excelentes resultados práticos; se compreendermos que é assim que nos preparamos para os exames e para as responsabilidades profissionais de amanhã; se isso acontecer aos nossos leitores como acontece a nossos alunos em classe, no primeiro mês de aula, estamos atingindo nosso objectivo.
Entretanto, é necessário pôr em prática aquilo que se aceitou como importante e eficaz na vida de estudos. Pode haver dificuldades numa primeira tentativa de leitura trabalhada, mas é necessário iniciar e perseverar nesta prática. Em breve, sentiremos concretamente seus efeitos benéficos. E todo nosso curso e todas as nossas leituras beneficiar-se-ão dessa maneira correta de trabalhar sobre um texto.
Tome seu texto, seja ele qual for; sente-se, acomode-se à mesa, com um dicionário e um bloco para apontamentos ao lado. Concentre-se, suavemente, no trabalho que vai iniciar, certo de que não é hora de se distrair com problemas alheios ao propósito de ler com aplicação e inteligência. Numa espécie de fase inicial de aquecimento e concentração, comece lendo o título do assunto, os subtítulos, o sumário, se houver; só então inicie a primeira leitura geral com a atenção sempre voltada para as ideias mestras e para os pormenores importantes; caminhe decididamente; se encontrar termos desconhecidos, anote-os em papel avulso; não perca de vista os titulas e os subtítulos; descubra e acompanhe a trajectória percorrida pelo autor; assinale a lápis, à margem do texto, o que lhe parecer digno de ulteriores considerações; mas não se detenha, caminhe até o fim com velocidade compatível com a compreensão do texto. Ao chegar ao rim, procure esclarecer o sentido das palavras desconhecidas que anotou durante a leitura. Essa sessão de estudos não deve ultrapassar vinte minutos ou meia hora; programe, pois, previamente, o ponto a que deve chegar, que pode ser um subtítulo do texto; neste caso, continue sua leitura até ao final do capítulo ou do texto em apreço.
Recomece a segunda leitura procurando no texto respostas às questões que o autor se propôs analisar ou que você mesmo formulou após a primeira leitura; atenda, agora, aos sinais que foi fazendo à margem do texto durante a primeira leitura. Detenha-se em cada parágrafo; sublinhe as ideias principais e os pormenores importantes; examine a coerência, a estrutura lógica do texto ; pondere a natureza e a força dos argumentos, a validade dos exemplos e a perfeição das divisões; questione, compare, critique; faça breves anotações à margem do texto; assinale pontos obscuros para debater com colegas ou professores. Vá associando novas conquistas a seus conhecimentos anteriores, integrando-as, enriquecendo-as com algo de seu, ao mesmo tempo em que se enriquece com elas, pois o crescimento cultural não se realiza por agregação ou superposição de camadas de conhecimentos, mas por gestação de concepções, como diria Sócrates. Crescimento cultural é processo vital de captação, análise, reconstituição ou síntese, assimilação ou integração unificada e unificante das partes ou elementos em um todo maior.
Não alegue que este trabalho supõe um cabedal de conhecimentos; isto é ou pode ser verdade; entretanto, é preciso começar para ir adquirindo cabedal sempre maior de conhecimentos; é ele que, em grande parte, é fruto da leitura trabalhada.
A segunda leitura é mais trabalhosa, mas oferece em troca excelentes gratificações. Ela disciplina nossa razão, desenvolve o senso crítico, alimenta o espírito científico, promove o nosso real desenvolvimento à semelhança da digestão sempre mais lenta e mais proveitosa que a ingestão. Ao término dessa segunda leitura, está aplainado o caminho para qualquer espécie de esquematização, resumo ou fichamento, que se queiram fazer. Dizemos "que se queiram fazer", porque, como já dissemos, não precisamos elaborar esquemas, resumos e fichamentos escritos de tudo o que lemos. Parece-nos um exagero de teóricos as prescrições insistentes em sentido contrário. Mas, quando o texto é muito longo ou difícil, ou mesmo elaborado sob forma de exercício, é bom refraseá-lo através de resumos, conforme as normas acima citadas, Quem não é capaz de resumir mentalmente ou oralmente um filme a que assistiu; uma peça de teatro, um romance ou um texto, sem precisar tê-lo feito antes por escrito?
Não basta ler uma, duas, ou até três vezes o mesmo texto. É preciso parar para analisá-lo, criticá-lo, discuti-lo, questioná-lo, anotá-lo, sublinhá-lo, retê-lo, refraseá-lo mentalmente e, quando necessário, em resumos escritos; é preciso captar com discernimento, analisar, associar, assimilar e reter com tenacidade, crescer através do desenvolvimento interno e não por agregação ou amontoamento desordenado de informações superficiais e assistemáticas.
A leitura cultural é um trabalho de garimpeiro; é um trabalho, não um passatempo ocioso.
Muitos alunos confessaram francamente que não pensavam ser a leitura tão importante. E declararam também que não sabiam ler.
O nosso objectivo neste item é simples e directo: mostrar como se lê e mostrar que é fácil ler bem. Quem não sabe ler jamais amará a leitura ou tirará dela o esperado beneficio. Quem aprendeu a ler confessa que passou a gostar de ler e a tirar grandes vantagens do estudo através da leitura; passou a encontrar tempo para ler e fazê-lo mais depressa e com melhor compreensão.
         Texto extraído das páginas 34 até 47, do livro:
RUIZ, J. A. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1996.

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